domingo, 15 de dezembro de 2013

Agora

Myrtes Matias

SE QUERES DAR-ME UMA FLOR,
DÁ-ME ANTES QUE EU MORRA...
SE QUERES FAZER HOJE O MILAGRE DE UM SORRISO
NUM ROSTO QUE CHORA, NÃO COLOQUES FLORES SOBRE TUMBAS...
SE QUERES DAR-ME UMA FLOR, FAZE-O AGORA.

SE PODES DAR UM LAR AO ORFÃOZINHO
ABRIGO AO POBRE QUE GEME LÁ FORA,
NÃO ENCOLHAS A MÃO, DEUS ESTÁ VENDO...
SE PODES DAR-ME UMA FLOR, FAZE-O AGORA !

SE CONHECES O ETERNO CAMINHO QUE LEVA AO TEMPLO
ONDE A ALEGRIA MORA...NÃO GUARDES, EGOÍSTA,
O TEU SEGREDO...SE PODES DAR-ME UMA FLOR, FAZE-O AGORA!

SE PODES DIZER-ME UMA FRASE LINDA,
ALGO QUE FAÇA A TRISTEZA IR EMBORA,
DIZE-A ENQUANTO POSSO AGRADECER SORRINDO...
SE QUERES DAR-ME UMA FLOR, FAZE-O AGORA.

O QUE FAREI DAS ORAÇÕES, DAS FLORES,
QUANDO DO MUNDO EU JÁ NÃO FOR ?
AOS PÉS DE DEUS, EU AS TEREI TÃO LINDAS
QUE NÃO PRECISAREI DO TEU AMOR..

NÃO ESPERES O INSTANTE DA PARTIDA,
SE PODES ME FAZER FELIZ, FAZE-O AGORA.
PARA QUE CHORAR DE REMORSO E DE SAUDADE ?

CUSTA TÃO POUCO A FELICIDADE...
DÁ-ME UMA FLOR, ANTES QUE EU VÁ EMBORA !!!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Língua portuguesa

Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

Em que da voz materna ouvi: “meu filho!”,
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

sábado, 2 de novembro de 2013

GRANDE CANTATA DE NATAL

O Natal está chegando e esta é uma das mais lindas poesias de Natal que eu conheço.

Gioia Júnior  

Cantarei o Natal,
mas o Natal-acontecimento,
o Natal exato,
realidade confortadora e simples,
o Natal sem sonhos.

Não o Natal de Papai Noel,
de São Nicolau,
do trenó sobre a neve,
do buraco da fechadura,
da chaminé delgada e escura,
do farnel de brinquedos...
Não!

Esse, positivamente, não é o Natal,
esse é um Natal de mentira,
inventado por alguém sem imaginação.
Não e Não!
Postiço e falso é o natal dos brinquedos:
da árvore de bolas amarelas, verdes,
vermelhas, azuis, prateadas, douradas,
espelhando rostos alegres,
alongando e diminuindo feições sorridentes,
natal dos sapatinhos sob a cama,
dos olhos marotos do menino rico,
dos olhos parados do menino pobre.
Natal dos brinquedos:
a bola de futebol novinha e cheirando a couro,
a boneca de porcelana
que fecha os olhos e tem vestidos ricos,
o aeromodelo, elegante e leve,
quebrando os copos da cristaleira,
os bibelôs do quarto,
aterrissando nas panelas da cozinha:
“Menino, vá para o quintal!”

Natal dos embrulhos que guardam mistérios,
embrulhos de sonhos, de risos, de vida,
natal dos olhos curiosos.
A árvore verde
tem loucas vertigens e visões fantásticas:
veste de algodão
e debruns e estrelas
e lâmpadas coloridas,
que riem o risinho do pisca-pisca:
“apagou... acendeu... apagou... acendeu...”
Não! esse, na verdade, não é o Natal!

... E o presépio animado
do trenzinho correndo nos trilhos sinuosos:
“entrou no túnel comprido,
saiu da ponte, desceu a serra;
um operário malha a bigorna
ritmadamente;
os animais movem a cabeça.”
Não! Esse não é o Natal!

... E a mesa farta:
leitões assados com rodelas de limão
sobre o corpo tostadinho,
o peru recheado,
de peito aureolado em farofa cor de ouro,
os frangos,
as frutas, as passas,
as ameixas pretas, 
as tâmaras morenas,
avelãs, nozes, castanhas...
bebidas, bebidas, bebidas
escorrendo, gotejando, geladas, loiras, espumantes.
Não! Esse é o natal-glutoneria!

Natal injusto é esse,
que divide castas
e separa classes
e alegra os ricos
e esmaga os pobres...
Maldito seja o natal que os homens inventaram
para que a mãe pobre o celebrasse chorando,
resistindo aos apelos:
- “Eu quero uma boneca!”
e às perguntas:
- “Papai Noel não vem?”
e às queixas:
- “Eu tenho fome! EU TENHO FOME!”

Maldito seja o natal-privilégio dos ricos,
que se mostram generosos
e distribuem migalhas aos pobres,
para comprar, com esse gesto, um terreno no céu:
um belo terreno de esquina,
com muitos metros quadrados,
em avenida principal.
Já disse e repito:
maldito seja esse falso natal,
esse mesquinho natal,
esse corrompido natal!

... E o natal-cumprimento:
telegramas urbanos,
parabéns, felicitações,
carta aérea, leve e curta,
bilhete escrito às pressas,
frase oca e vazia
bordada num cartão postal?
- Esse é o natal-hipocrisia
e está longe de ser o perfeito Natal!
Natal é muito mais:
é visão, esperança, certeza, humildade,
pastores, madrugada, estrebaria,
e José e Jesus e Maria,
e bondade
e alegria!

Cantarei o Natal!
“Dormem no campo os pastores,
os que tangem rebanhos sonhando.
Dormi, pastores, que a noite é um lírio
perfumado e eterno, branco e silencioso,
dormi como justos,
como crianças travessas,
um sono leve e escuro, macio e indevassável,
deixai que a terra úmida
aconchegue vossos corpos.

Despertareis em sonhos,
despertos sonhareis a visão almejada.
Abrem-se os céus como sulcos oceânicos
e embriagadora música emoldura a paisagem;
despertam figuras,
são anjos de largas e leves e rosadas asas,
brancas e celestes asas de pássaros gigantescos.
Despertai, homens do povo!
Humildes pastores das campinas verdes, despertai!
Anjos inquietos, suaves e claros
cantam em coro
o que ouvidos humanos jamais ouvirão...
escutai,pastores!
e guardai o cântico!

Guardai-o, para que se não dilua,
guardai-o, para que ainda o ouçamos
e dele falemos pelos séculos dos séculos. Amém.

Glória a Deus nas alturas!
Glória
a Deus nas alturas!
Repitam os campos e os astros e as sombras
e a noite, nas trevas que se movem vagarosas,
e a terra, quente, laboriosa e humana:
Glória a Deus nas alturas! 
E as muitas águas,
e as pedras escuras, lascadas, fendidas,
suspensas no abismo como gesto atrevido,
e as folhas verdes bailando e sorrindo
como dedos de criança
e o capim cheiroso que as ovelhas comem
e as sinuosas vertentes transparentes e ágeis,
repeti o coro que os anjos ensinam:
Glória a Deus nas alturas
e Paz na terra aos homens de boa vontade!

Paz na terra!
Apesar das bombas e dos acordos diplomáticos,
apesar do nevoeiro denso
que esconde navios compridos, cinzentos e armados,
apesar do ronco dos aviões a jato,
dos estampidos supersônicos,
dos campos de concentração
onde os velhos mordiscam a morte
e os moços já não existem,
apesar das bandeiras,
das muitas bandeiras nervosas e bailarinas,
das inquietas bandeiras de asas mutiladas,
apesar da vingança e da conquista,
dos aleijados, dos órfãos, das viúvas,
apesar dos cadáveres sem túmulo,
expostos e pisados,
apesar da insânia,
das fronteiras,
do ódio velado, do profundo ódio
dos que foram derrubados mas não se perturbam,
apesar das experiências atômicas,
PAZ na Terra!
Paz na terra aos homens de boa vontade!
Eis o Natal, criaturas,
vinde bebê-lo sem o auxílio de vasilhas e potes de barro
dos muitos países,
vinde bebê-lo com as mãos em concha,
como quem se salva!

Vem de longe os magos:
são silhuetas
que os raios da estrela,
que os fios dourados da Estrela do Oriente
puxam, fazem andar, fazem parar, ensinam...
Vem de longe os magos,
para a fonte da água...

...Ouço vozes longínquas,
vozes ciclópicas abafadas pela distancia,
mas nítidas, definidas, exatas,
são vozes proféticas anunciando o tempo:
Isaías, Jeremias, Davi...
essas vozes completam o Natal,
definem e traduzem o Natal perfeito,
ouço vozes que cantam num coro harmonioso,
não há dissonâncias, nenhuma sequer.

O menino dorme
embalado pela estrela.
José medita,
Maria sorri...
sorri pelos olhos, pela boca, pelo corpo,
acariciada por essa alegria repousante
que é ser mãe.
Os magos estão curvados,
numa atitude obediente;
chegaram de muito longe,
para viver o Natal!
Os pastores cantam, os pássaros deslizam,
não há nada morto,
tudo é vida abundante,
eis o Natal!

Cantarei o Natal!
Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens!
Ecoe meu cântico pelas cercanias indevassáveis,
inunde os templos como VENDAVAL impetuoso,
aqueça choupanas de famílias pobres,
alimente pobres,
acenda nos olhos do menino triste
o suave brilho da esperança presente,
alimente pobres com o pão macio,
branco e generoso, perfumado e quente.

Sacuda cidades o meu puro cântico
e destrua planos de vingança e ódio.
Proclame o saltério,
respondam as cordas, confirmem os arcos,
com maviosas vozes, doces, sussurrantes,
gritem as trombetas,
chorem as mulheres,
repitam os homens,
cantem as crianças...

O Natal é isto:
um misto de luzes e vidas, um misto
de perdão e calma...
mas calma profunda que nos satisfaz.
O Natal de Cristo
é o cântico eterno da perfeita Paz...
da Paz verdadeira, da paz-humildade,
dessa Paz sincera proclamada aos homens
de boa vontade:

PAZ NA TERRA AOS HOMENS
DE BOA VONTADE!

Jesus - Alegria dos Homens

Gióia Junior


Nesta hora de incerteza. de cansaço e de agonia,
nesta hora em que, de novo, a guerra se prenuncia,
neste momento em que o povo não tem rumo, nem tem guia;
Ó Jesus, agora e sempre Tu és a nossa alegria!

Nesta hora seca e torpe, de vergonha e hipocrisia,
quando os homens apodrecem nos banquetes e na orgia,
nesta hora em que a criança atravessa a noite fria;
Tu és a nossa esperança, Tu és a nossa alegria!

Alegria manifesta, que brotou e se irradia
de uma simples e modesta e sublime estrebaria,
alegria nunca ausente,
alegria onipotente
que palpita para o crente
e faz dele um novo ser;
alegria cristalina,
doce, mística, divina,
que nos toma e nos domina
e nos enche de poder.

Tu és a nossa alegria! Santa alegria, Senhor,
que nos une e nos separa e nos fecunda de amor!
Por isso cantamos hinos, temos prazer no louvor,
até nas horas escuras do afastamento e da dor.

Cantai, ó povos da terra!
Trazei harpas e violinos,
oboés, cítaras, guitarras,
harmônios, címbalos, sinos,
clavicórdios e fanfarras,
coros de virgens e mártires, de meninas e meninos!

Cantai, ó povos da terra!
Trazei avenas e tubas, flautas, flautins,
clarinetas, celos, clarins
e tambores
e metálicas trombetas e puríssimos cantores!

Cantai, ó povos da terra!
Trazei pássaros e fontes, bulícios, rios e ventos,
rochas, árvores enormes, alvos lírios orvalhados, palmas viçosas luzindo,
sons da noite, vozes múltiplas dos animais e das águas,
das pedras e dos abismos, das florestas intocáveis
e dos mundos subterrâneos, sons da madrugada clara:
estalos de galhos verdes. Doces ruídos domésticos: talheres e louças brancas.
Sons de fábricas, ruídos de teares e bigornas, de madeiras e metais,
passos pesados de botas de militares eretos,
passos macios e quentes de rosadas colegiais.

Cantai, ó povos da terra!
Cantai de noite e de dia,
na tarde pesada e morna,
na manhã ágil e fria,
na aflição, ou na ventura,
ao nascer, ou na agonia:
Jesus - Senhor dos senhores,
Tu és a nossa alegria! Tu és a nossa alegria! Tu és a nossa alegria!

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O EXEMPLO DE PEDRINHO

Myrtes Matias

Tudo começou naquele dia 
em que Pedrinho a conheceu: 
era toda verde, 
os raios brilhantes, 
o farol enorme. 
- a mais bonita bicicleta da loja. 

- "Seu moço, quanto custa?" 

O negociante estendeu o lábio com desprezo: 
- "Tres mil cruzeiros." 

Tres mil cruzeiros?! 
Pedrinho coça a cabeça desanimado, 
mete a mão no bolso 
e tira, envergonhado, 
uma amassada notinha de dois cruzeiros. 
Sai da loja, 
sobe o morro 
e entra no barraco 
onde o tio dorme o seu sono de ébrio. 
Apanha uma lata vazia 
e guarda a velha nota. 
Era o início da luta: 
engraxa os sapatos, 
carrega água, 
guarda carros, 
aluga os bracinhos magros 
nas feiras de sábado... 
Quanto tempo! 
Quanto sacrifício! 
Quanto ponta-pé do tio embriagado, 
até ao dia em que Pedrinho pode contar: 
- 50, 100, 500, 1000, 2000, 3000 cruzeiros... 
Faz um pacote e desce o morro 
para o grande encontro. 

Na casa da esquina Pedrinho para. 
Havia tanta gente... 
Entra. 
Um homem de preto falando: 
"Irmãos, grande desgraça na China: 
doença, frio, falta de pão. 
Crianças morrem de fome, 
velhos perecem sob a neve..." 

Mostra fotografias: 
crianças amarelinhas, 
de mãos estendidas, 
os olhos amendoados no rostinho sujo. 

Passam uma bandeja pelo auditório 
e começam a cair as moedas. 
Pedrinho não entende porque dão dinheiro. 
As crianças da China querem pão. 
Ele não sabe onde é a China, 
nem o que é morrer sob a neve, 
mas sentir fome ele o sabe bem. 

O menino não resiste. 
Deixa o auditório, corre à padaria 
e começa a comprar muitos, 
muitos pães cobertos de açúcar. 
O preço do seu tesouro, 
toda sua economia de longos meses... 

Volta curvado sob os pacotes enormes. 
O homem de preto interrompe o apelo 
e Pedrinho explica: 
- "Moço, é para as crianças da China." 

A multidão está boquiaberta. 
Teria roubado? 
Interrogam-no. 
E a criança, fazendo força para não chorar, 
piscando para esconder a lágrima teimosa, 
balbucia: 
- "É o dinheiro da bi-ci-cle-ta verde..." 

Um murmúrio cresce no auditório 
de admiração e vergonha 
diante do sacrifício da criança. 
Os pães são vendidos por milhares de cruzeiros, 
maravilhosamente multiplicados 
como os cinco pães do menino galileu... 

As crianças da China teriam pão 
porque um menino pobre do morro 
dera tudo quanto possuía, 
seu sonho, 
sua bicicleta verde, 
seu primeiro amor... 

Talvez pareça um exagero de poeta 
numa tremenda força de expressão. 
Mas se sentirmos em toda intensidade 
o peso de toda a humanidade 
que geme sem Cristo, o verdadeiro pão. 

Se contemplarmos milhões de mãos crispadas, 
de almas revoltadas que suplicam amor, 
milhões de famintos, pobres que morrem de frio 
num mundo vazio - rebanho sem pastor. 

Se olharmos através do IDE de Jesus 
o campo enorme que é o mundo sem Deus; 
se sentirmos também de igual maneira, 
tudo entregaremos à Obra verdadeira 
de semear na terra para colher nos céus. 

Eu sou, tu és, nós somos responsáveis 
pelos que perecem sem amor, sem luz. 
Que Deus nos arranque do vil comodismo, 
nos faça mártires, se assim for preciso, 
mas que o mundo se dobre ao nome de Jesus. 



Do livro "Poemas para meu Senhor", Casa publicadora batista.

domingo, 20 de outubro de 2013

Soneto de Fidelidade

Vinicius de Moraes
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure

MEUS OITO ANOS

Casimiro de Abreu

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!

Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!

Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus —
Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!

................................

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
— Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
A sombra das bananeiras
Debaixo dos laranjais!