quinta-feira, 17 de abril de 2014

Hino a Anchieta

Dom Aquino Correa

Aqui nesta terra mimosa e sagrada
Foi que alma gentil quis a Deus entregar
O apóstolo audaz das florestas assombradas,
0 angélico poeta das praias do mar.

Anchieta, o teu nome é um poema que encerra
Os ciclos heróicos do nosso Brasil,
Que por ele viva abençoada esta terra
No bronze da glória por séculos mil.

Nasceste bem longe das nossas florestas,
Nas ondas do mar sob um céu todo azul,
Mas foi nesta noite que, meio de festas,
Tu viste o Brasil no Cruzeiro do Sul.

Tu foste o canário de voz doce e pura
Que, aos pés de Maria, em Coimbra, cantou.
Teu canto foi este: "O Mãe de ternura,
A ti para sempre eu agora me dou”.

Aqui tu vieste, aqui tu morreste,
Tu és do Brasil, brasileiro tu és.
Agora tu vives na pátria celeste
Mas neste Brasil caminharam teus pés

Cantei este hino uma vez por semana durante os cinco anos que estudei no "Grupo Escolar Padre Anchieta" e por incrível que pareça, só lembro da música do estribilho que é a única parte que lembro a letra de cor.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A cozinheira

Bastos Tigre

Tou despedida. Essa agora!...
por uma coisinha à toa
o demonio da patroa
danou-se e mandou-me embora!
A mim que sei quanto "vaio",
que intendo do meu "ofiço",
que sou boa no "selviço",
que sou fixe no trabaio!...

Vorto de novo pra agença...
Vou arranjá patrões novo.
Quais novo nada! Esse povo
quase num faz diferença!...
É tudo da mesma raça:
resmungão, impretenente...
Prá agradá eles a gente
não sabe mais o que faça.

Pruquê eu cá sou cozinheira
mas sou de forno e fogão!
Eu cá não sou de feijão,
tutus e couve à mineira!
Trabaio em massas, corquetes,
faço cunzinhas francesa.
Seio fazê sobremesa
de pudingues e meletes!

Pois o diacho da patroa
que só dava prá cuzinha
carne, feijão e farinha,
queria comidas boa!
E inda ficava danada
quando, de tarde, o marido
fazia nariz trucido
pro feijão e carne assada!

Eu cum essa gente tô cheia!
Com esse povo não me aprumo!
Mas afiná!... não costumo
falá má da vida aleia!
Tenha ou não tenha razão,
eu quando uma casa deixo,
não me ralo, não me queixo,
nem falo má dos patrão.

O patrão deve na venda,
no açougue, no quitandeiro,
na fremácia, no padeiro,
no turco, no home das renda!
E inda ameaça com prisão
os pobre dos cobradô!
Mas...bico! que eu não sou
de falá má dos patrão!...

O patrão é um assanhado!
O mau costume ele tinha
de andá rondando a cuzinha,
a fazê-se de engraçado...
Eu nunca dei atenção
mas a patroa é ciumenta,
chegou-lhe a mostarda às ventas,
brigou, pintou com o patrão!

E ó, despois mandou-me embora!
Já viro que desaforo!
Tenho nada c'os namoro
de seu marido, senhora?
Eu cá não sou disso não!
Diabo a leve c'os seu ciumes!
Eu nunca tive o costume
de dá confiança a patrão!

Tá dereito, vou simbora!
Vorto de novo pra agença!
Minha gente, com lecença...
Meus senhores e senhora,
eu sou de forno e fogão...
Percisando meus selviço,
saibam que eu cá não sou disso
de falá má dos patrão!

Recitei esta poesia quando estava no Grupo Escolar Padre Anchieta, numa das festas escolares. Não sei precisar o ano, mas foi entre 1955 e 1959.